para ler ouvindo: The Linda Lindas.
Essa é a primeira edição do nosso boletim mensal. Aqui vou reunir as publicações sobre discos, abrir mais espaço para troca e trazer perfis de mulheres da música e de outros campos para nos inspirar e criar uma rede bem massa.
Enquanto escrevo esse texto, fico sabendo que foi aprovada a privatização dos Correios e a medida em que essa notícia vai me deixando mais triste, me pergunto qual o sentido em continuar insistindo em falar sobre mulheres na música. Ou falando sobre arte em geral.
Em 2015, quando comecei o 365 Girls in a band inspirada pela autobiografia da Kim Gordon, não tinha ideia se realmente tocaria o projeto um ano, nem dos desdobramentos que ele teria. Fazia menos ideia ainda de que essa brincadeira abriria portas profissionais, ainda que indiretamente, e me colocaria tão perto do que teimosamente ainda acho que é minha vocação: a comunicação.
Naquela época, o Brasil tinha uma presidenta democraticamente eleita e a CAPES pagava a bolsa que estava bancando meu ano fora do país. A cultura e a educação nunca estiveram realmente bem, mas estavam sendo valorizadas e protegidas. Hoje estamos brigando para respirar - quase que literalmente - e tendo que explicar coisas como o formato da terra. Falar de mulheres na música ainda faz sentido? Ou de arte, em geral?
Talvez mais do que nunca. Precisamos lembrar que não somos números - sejam algoritmos que nos dizem onde e como trabalhar para eles, sejam estatísticas de morte causadas por uma “gripezinha”. A arte é ferramenta para contar histórias e para nos lembrar que somos mais do que engrenagem em um sistema que insiste em nos moer. E que mesmo aquilo que esse sistema teima em tentar eliminar, acaba, em algum momento, entupindo o funcionamento da máquina e regurgitando sobre ela. Porque estamos aqui e estamos vivos e vamos contar nossas histórias enquanto tivermos voz.
Quem faz esse projeto acontecer
O rostinho que você está vendo no cabeçalho desse e-mail é o meu. Nesses quase 7 anos, raramente dei as caras por aqui, mas já que vou estar na sua caixa de entrada uma vez por mês, achei educado me apresentar.
Prazer, meu nome é Maria e quando eu era criança minha mãe me chamava de Maria Caramujo porque eu era tímida demais. Diz ela que aprendi a cantar antes mesmo de aprender a falar, o que mostra que a música sempre teve um papel bem central na minha vida. Comecei esse projeto de brincadeira, na mesa da cozinha, no auge da minha paixão pelo movimento Riot Grrrl. De lá para cá, aprendi sobre música, feminismo, comunicação, redes de cooperação, criação, produção e conheci um bocado de gente incrível.
Hoje, além do trabalho-que-me-paga e do 365 Girls in a band, eu tenho um podcast sobre música alternativa nacional, uns textos publicados no medium, faço pós graduação em rock e tenho uma ou duas cartas na manga esperando para sair.
Para ver, ler e ouvir
Essa é uma edição um pouco diferente das que virão pela frente, mas eu não podia ir embora sem deixar umas dicas para te entreter até o mês que vem
Assisti: O documentário Sisters with transistors, que conta a história da importância das mulheres no desenvolvimento da música eletrônica e vai mudar sua perspectiva sobre o lugar das mulheres na tecnologia musical
Li: Acabei de terminar Linha M, da Patti Smith. O livro não é um lançamento, mas como todos os textos da artista, me arrebatou completamente. Recomendo assinar a newsletter dela também.
Ouvi: Estou imersa em uma pesquisa sobre Marina Lima e fiquei fascinada por um disco mais recente e pouco falado: Pierrot do Brasil tem elementos eletrônicos, ótimas letras e Marina fazendo o que faz de melhor: se recriar e experimentar linguagens.
AMEI