Rita Lee encantou. Fez essa passagem com a mesma dignidade e identidade que fez tudo em sua vida. Minhas timelines cobriram-se de Rita, uma unanimidade que só tinha me ocorrido quando Bowie nos deixou em 2016. Isso só demonstra que, muito mais que mãe do rock brasileiro, a artista é um dos grandes nomes da música mundial. Até o The Guardian reconheceu isso.
Minha relação com a Rita Lee pós Mutantes é errática e por muito tempo disse que não gostava da carreira solo. É mentira, claro. Pagu e Agora só falta você não são canções, são mantras. E a Maria adolescente se sentiu muito acolhida cantando “agora é hora de você assumir e sumir”, mesmo que meu pai nunca tenha dito que sou a ovelha negra da família.
De qualquer maneira, se você gosta de música e rock, se ouve música nacional em 2023, você gosta de Rita Lee. Se você não estiver nem aí para a música, mas for minimamente legal, você também gosta de Rita Lee, porque é impossível não desejar ser amiga de boteco (de cinema, de passeio na rua, de qualquer coisa) dessa rainha.
Essa introdução toda foi para dizer que não havia como esse projeto não dizer uma ou 1000 palavras sobre essa perda para nossa história musical e cultural. Para isso, chamei as amigas, mais viscerais sobre Rita do que eu. Uma despedida coletiva para um luto coletivo de alguém que nos ensinou a sentir prazer no ar que respiramos.
Rita é imensa. Rita velha, jovem, mãe, apaixonada, criativa, malcriada, mutante.
da Lívia Aguiar, da
“Epitáfio: ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa.”
citação da Sofia Clark, que sempre me lembra do que importa
A mulher que me permitiu a transgressão
da Fernanda Domenguetti, a trangressora mais doce que pode existir
Rita foi à frente do seu tempo e abriu caminhos para mulheres de todas as gerações posteriores. De ter voz de se colocar em um cenário desfavorável para o feminino. Rita Eterna!
da Isa Boerger, que aprendeu com a Rita que humor deixa a vida mais leve
Rita foi chutada da pior forma de sua banda. Aí Rita deu um jeito e se deu muito melhor. Que bom.
da Gabriela Nobre, maga das palavras e dos sons.
Descobriu o amor com Roberto, mas espalhou bem direitinho.
da Fernanda Meireles, encantadora de cidades, pessoas e papéis.
A Maísa Mel, apresentadora do Distorção Podcast, fez um depoimento mais longo:
Foi simplesmente assim que Rita conquistou o nosso mundo por um pouco mais de cinco décadas. Uma mulher extremamente brilhante que, às vezes, tímida, projetava uma energia de diversão genuína, poesia simples e liberdade como uma forma de dignidade pessoal e artística. Tudo isso com as suas madeixas intensamente vermelhas, a guitarra nos braços, a linguagem sincera, o espírito virtuoso, a mente livre e a voz invariavelmente doce. Tudo isso aos 20, aos 30, aos 40, aos 50, aos 60, aos 70 anos. Rita foi uma estrela em forma de gente, dentro e fora dos palcos. Eu queria ser Rita Lee. E quem não queria?
Olga Costa, apresentadora e produtora do Jardim Elétrico, tem uma longa história com Rita Lee
Eu nem imaginava que uma paixão iria se transformar em profissão. Levando um disco do Black Sabbath (Born Again) fiz a primeira participação nesse programa de rock da Rádio Universitária em 1985. Sim, mais de um ano depois do lançamento. Era assim que o mundo girava. E ontem comentei que o Jardim era, e ainda é, a minha mais completa tradução (obrigada Caetano!). O Jardim não morrerá enquanto houver alguém disposto a adubar e regar. Rita Lee sempre será parte desse Jardim, do meu jardim.
Para fechar, o depoimento lindo de Camila Matos, professora, pesquisadora urbana e montadora de filmes
Lembro de quando eu era uma criança roqueira aprendendo a tocar guitarra e um tio me apelidou de Rita Lee, como que para me irritar. E nessa irRITAção descobri ela, que veio me mostrar muitos caminhos na vida, na criação e na psicodelia. Colei com Rita e muitas vezes me senti tocando, conversando e escrevendo com ela. Formamos, simbolicamente, ali, na música, uma família de ovelhas negras.
Baila comigo
Para encerrar essa newsletter antes do substack avisar que ela está muito longa, links de pessoas falando apaixonadamente sobre Rita Lee (porque não há outra forma de falar:
Esse episódio muito cuidadoso do
https://www.silencionoestudio.com.br/podcast/113-raio-x-rita-lee-fruto-proibidoEsse vídeo do Tom Zé, que já tem rodado por aí e é incansável:
Essa despedida intensa do Casagrande <3
Por hoje, é o que temos. Obrigada pela companhia. E obrigada por tudo mesmo, Rita Lee Jones.