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And so it's X-mas e o mundo descobriu que a Yoko Ono não era a vilã da história
Bom, na verdade não foi bem assim. Mas pelo menos a imprensa especializada andou revisando a figura da Yoko e seu papel (ou não) na dissolução dos Beatles. Faltam ainda uns quilômetros para que a multiartista tenha o reconhecimento que merece no mainstream, mas o fato é que, apesar de ter se apaixonado por um dos maiores astros do mundo pop, Ono sempre foi do lado mais experimental e vanguardista da arte. Aqui da para ver um pouco da minha opinião sobre a Yoko. Já sobre a postura da artista em Get Back, esse artigo traduziu muito dos meus sentimentos
A figura da destruidora de lares (e bandas) não começou com Yoko Ono, é claro, assim como não terminou com ela. Para mim, criança dos anos 90, a grande vilã da história foi Courtney Love e demorou muito para que conseguir compreender melhor sua figura e admira-la como a artista que ela é.
Para não dizer que todo romance musical acaba em documentários malfeitos sobre homens mal resolvidos e suas mulheres artistas, é bom lembrar de dois excelentes casais artistas: Patti Smith e Fred Sonic e Laurie Anderson e Lou Reed. Ter referências saudáveis de rock e de amor é muito útil para construir nosso próprio caminho.
Aproveitando o hype
A citação ao Get Back não vem apenas aproveitar o barulho em torno da série-documentário ou comentar o papel das mulheres ao redor da banda. Estamos em fim de ano e o filme é uma boa forma de refletirmos sobre como se dão os fins de ciclo e como, apesar das dificuldades e do luto que sempre vem com encerramentos, eles podem ser bonitos, inspiradores e começos de novos caminhos, que se relacionam mais com nosso momento presente.
Outro ponto importante, ao meu ver, são os momentos de ócio criativo e a narrativa do processo criativo como uma constante de insistência e repetição. Fazer, refazer, respirar, refletir, recomeçar são etapas do processo de elaboração de qualquer obra. Em tempos de redes sociais digitais e da obrigação de soltar um single por semana, é importante lembrar que o caminho da criação é tortuoso e ainda não foi captado pelos algoritmos.
Lendo, vendo, escutando
Vinícius Cabral me mandou essa pesquisa-podcast sobre o importante papel da Yoko Ono na presença das mulheres no rock.
Alexandre Lopes, meu coleguinha de Undergrations também, compartilhou esse documentário de 15 minutinhos sobre a Lucinha Turnbull, importante guitarrista do cenário musical brasileiro.
A namorada-do-rockstar que fica para escanteio é uma figura tão consolidada que esse personagem constrói a narrativa em Mesmo se nada der certo, um ótimo filme para pensar em processos criativos, motivação, música e ciclos. Também é uma boa pedida para descansar nesse fim de ano.
Nick Hornby, que eternizou o roquista babaca com nosso amado Rob Gordon/Fleming em Alta Fidelidade, também deu vida a uma namorada-genial-deixada-de-lado em Juliet, Naked. O livro também virou filme e a história é quase uma mea culpa do próprio Hornby sobre o tipo de homem que ele ajudou a eternizar.
Uma pessoa que fala incrivelmente bem da presença feminina na cultura pop é a Melody Erlea, do Repete Roupa. O blog começou falando de moda sustentável, mas é bem mais que isso e produz um dos conteúdos mais bacanudos da internet atualmente.
Para finalizar, 2 livros e um zine que me deixaram impactada esse ano e influenciaram diretamente meus projetos criativos: My year of rest and relaxation, de Ottessa Moshfeg (me impressionou com ela usou um detalhe para construir toda a narrativa); A cidade solitária, de Olivia Lang, um livro sensível sobre a importância da solidão e como isso se reflete na cena artística nova-iorquina em pelo menos 3 décadas; e o zine O ano do boi, da Laura Cohen. Para acompanhar tiragens do último, basta seguir a Laura no Instagram. Quem se interessar pelos livros, pode responder esse e-mail para mais informações.
Para me despedir, além de desejar um 2022 de coragem e descanso para nós, queria marcar a tristeza por termos perdido bell hooks. Que suas ações em todos os campos sejam faróis para o ano que nos espera
Agradeço a todo mundo que acompanha, divulga e apoia o projeto.
Em fevereiro, estaremos de volta com esse e-zine. Até lá!